Casarão em Higienópolis sofre deterioração
sexta-feira, 25 de março de 2011Um casarão que pertence ao patrimônio arquitetônico de São Paulo teve parte de suas características originais desfiguradas e está se deteriorando aos poucos, em Higienópolis, região central. “Esse casarão é um dos poucos remanescentes de um período arquitetônico de São Paulo, das décadas de 1920 e 1930, que eram inspirados em chalés suíços e ingleses. São raros”, disse o arquiteto Carlos Faggin, professor da FAU-USP e membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
O imóvel do número 698 da Avenida Higienópolis, que é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), foi adquirido pelo grupo que controla o Shopping Pátio Higienópolis, próximo dali. Hoje ele é parcialmente ocupado pelo Bar des Arts, mas até 2005 abrigava uma loja do estilista Ocimar Versolato. Ele construiu vitrines e uma passarela de vidro e pedra na entrada do casarão. Depois que a loja foi fechada, a estrutura ficou. Na parte ocupada pelo bar, atrás do casarão, foi feito um balcão de mármore e um forno a lenha. Ainda, diversos cômodos do casarão são usados como depósito pelo Bar des Arts.
Segundo o arquiteto Carlos Faggin, a responsabilidade pela conservação das características originais do imóvel tombado é do shopping, que é proprietário e não deveria ter permitido as alterações feitas. “Os órgãos de preservação, como o Conpresp e o Condephaat, não têm poder de polícia. Mas os donos do imóvel tombado poderão ser autuados e multados, caso as reformas feitas alterem as condições originais de quando o lugar foi tombado”, disse.
A sensação, segundo ele, é que nem bem inaugurou a nova ala, o shopping deixou de lado a casa que se comprometeu a cuidar. “Esse vandalismo decorre da ignorância do significado do casarão para a cidade e para a própria arquitetura. Se o proprietário ou o locatário dessem o devido valor ao imóvel, eles não só não permitiriam nenhum vandalismo, bem como fariam as adaptações necessárias no patrimônio histórico.”
Segundo o Conpresp, o Shopping Pátio Higienópolis possui a licença necessária para fazer o restauro do imóvel no número 698, bem como de outro casarão, conhecido como residência de Nhonhô Magalhães, um barão do café, localizado na esquina da Avenida Higienópolis com a Rua Doutor Albuquerque Lins. Porém, as obras deveriam ser acompanhadas pelo Departamento do Patrimônio Histórico e, ao término, um relatório deveria ser apresentado dando conta dos trabalhos realizados, acompanhado de fotos e ilustrações sobre as intervenções.
Vazio? / O DIÁRIO contatou o Shopping Pátio Higienópolis e perguntou sobre a perda das características originais do casarão e sobre as obras de restauro. A assessoria do shopping respondeu em nota que “o imóvel foi locado, mas acabou não sendo usado. Com o término do contrato, o locatário começou a desocupar o espaço e o shopping procura um novo inquilino”, mas não mencionou as alterações realizadas no casarão.
Também procurado pela reportagem, o estilista Ocimar Versolato informou por meio de sua assessoria que não comentaria o caso.
Shopping Higienópolis cresceu nos últimos anos
No final do ano passado, o juiz Emílio Migliano Neto disse que as obras do Shopping Higienópolis lembravam a “Lei de Gerson, de levar vantagem em tudo”. O juiz avaliou um pedido do Ministério Público, que acusou o shopping de crescimento desordenado. “Foi aprovado para ter 71.616 metros quadrados, mas foram adicionados irregularmente
5.199 metros quadrados, os
quais abrigam lojas, restaurantes e serviços”, apontou o MP. Em nota, a Prefeitura disse, na época, que o “restaurante contíguo, – o Bar des Arts -, também estaria irregularmente instalado”.
60
lojas foram inauguradas em novembro de 2010 com a expansão do prédio
Trânsito e barulho incomodam os moradores
Moradores da região reclamam que o shopping piorou a qualidade de vida do bairro, levando trânsito nos finais de semana e em datas comemorativas, como Natal e Dia da Criança. Outra crítica é com relação ao barulho. Durante as intervenções de expansão, o canteiro de obras funcionava durante o período da noite.
Fonte: Diário de S. Paulo