Estação de metrô em Higienópolis cria embate entre quem mora e trabalha no bairro
segunda-feira, 16 de maio de 2011A mudança nos planos de construir uma estação de Metrô no bairro Higienópolis, anunciada nesta semana, atiçou o ressentimento entre classes, reforçou achismos sobre o impacto que uma obra como essa traria à região e fez com que a expressão “gente diferenciada” fosse usada às pencas. Nas ruas, o embate em torno da construção do metrô ficou claro: o projeto é mais que bem-vindo por aqueles que trabalham no bairro, enquanto alguns moradores temem uma invasão popular nos elegantes quarteirões de Higienópolis.
A reportagem do R7 foi às ruas, nesta sexta-feira (13), para ouvir a opinião de quem frequenta ou vive no bairro. Tereza de Matos, de 41 anos, é diarista em um apartamento luxuoso em Higienópolis. Ela diz acreditar que as pessoas que são contra a construção da estação de Metrô da linha 6-laranja são aquelas que possuem carro e não trabalham na região. A cabeleireira Geralda Soares, de 52 anos, também relata que chegaria mais cedo em casa se trocasse um dos ônibus por uma viagem de metrô.
– Moro na Vila Silvia e trabalho em frente ao ponto onde o metrô seria construído. Ontem, esperei uma hora e meia para pegar um ônibus que me levaria até a estação de Metrô Armênia, onde eu tomo outra condução até a minha casa.
As estudantes Pâmela Cristina Rocha, de 22 anos, e Lilian Camargo, de 26 anos, são amigas e a opinião delas ilustra bem o embate em torno da futura obra do metrô. A primeira se animou com a ideia e disse que a passagem do metrô na avenida Angélica iria “a-r-r-a-s-a-r”. Já a colega dela diz achar que é perda de tempo e dinheiro construir um prédio ali, pertinho da estação do Mackenzie (que ainda não foi inaugurada).
O mesmo pensa a jovem Anaisa Marim Martins, moradora da rua Sergipe, ao lado de onde a obra seria construída. A estudante, que passeava com os dois cachorrinhos, disse temer a invasão de camelôs no bairro e o aumento da criminalidade. A oposição da jovem vai contra, inclusive, a teoria da especulação imobiliária. Na opinião de Anaisa, a nova estação na avenida Angélica desvalorizaria o imóvel que mora com os irmãos.
– A estação pode chegar a abalar a estrutura do nosso prédio. Se ela realmente vier para cá, meu irmão e eu vamos nos mudar para outro imóvel.
O canadense Moisés, de 74 anos, questiona o argumento do Metrô de que a alteração no projeto aumentaria as distâncias entre os acessos das linhas amarela e laranja. Ele relata que as “principais metrópoles do mundo têm estações em todos os cantos” e acredita que uma avenida como a Angélica, que possui comércios e prédios residenciais, deveria contar com mais opções de transporte coletivo.
Quem também não mora em São Paulo tem opinião formada sobre a polêmica obra. A advogada Severina Tavares de Araújo, de 89 anos, veio a trabalho a São Paulo e diz ter a convicção de que os planos do governo foram alterados por causa do preconceito da população local. Na opinião dela, “a segregação social está presente em todas as partes, mas é muito mais visível em São Paulo”.
O motoboy Luis Roberto Brassarote, 28 anos, reforça o opinião da advogada e diz que o problema é a discriminação. Em Higienópolis, o povo briga para não ter metrô; já os moradores da periferia não veem a hora de ele chegar por lá, relata ele.
Fonte: R7